O Brasil tem dado passos importantes para trazer à luz parte significativa de sua História. Com a Comissão da Verdade, o país tem a chance de – a exemplo do que já fizeram diversas nações pelo mundo, como Argentina e Uruguai – restabelecer a verdade para milhares de cidadãs e cidadãos que sofreram com o desmando de governos autoritários. Finalmente, documentos e informações sobre prisões, desaparecimentos e mortes de militantes e ativistas políticos poderão se tornar públicos, explicando como estes regimes agiam e ratificando a relevância da democracia.
O vereador Flávio Cheker é testemunha deste processo. Em junho de 1980, ele era “procurado”, junto com outros estudantes e mais pessoas, durante visita do então presidente da República, general João Baptista Figueiredo, à Juiz de Fora. Cheker, 21 anos, era então coordenador geral do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), e presumivelmente seria detido para averiguações. Cheker estava dando aula e deixou a sala onde lecionava minutos antes da chegada dos policiais. Outras lideranças foram presas e soltas logo após o presidente deixar a cidade.
Este episódio está registrado no livro Minas no Senado, a partir de discurso proferido pelo então senador Itamar Franco naquele mesmo dia. Itamar fala como representante de Minas e de Juiz de Fora para protestar contra aquelas prisões, ressaltando que este tipo de atitude contrariava o processo gradual de redemocratização, que o país então vivia. “O que estranhamos (…) quando se fala na normalidade democrática deste país, na busca da normalidade democrática, é que pessoas sejam detidas sem o devido mandado”, disse então o futuro presidente da República.
Para o vereador Flávio Cheker, a memória desta data deve servir de reflexão para o período que vivemos. “Mirando o passado histórico, evidencia-se a importância da democracia para o país. E isso se torna mais forte à medida que a verdade sobre os fatos vem à tona. A Comissão da Verdade – seja a nacional, seja a municipal, que buscamos instituir – é mais uma ferramenta para cumprir esta dupla função: restabelecer a verdade e valorizar a democracia”, conclui o vereador.