Em reconhecimento à cidadã Cirene Izidorio Candanda, notável pela luta contra a discriminação da raça negra, o vereador Flávio Cheker prestou homenagem – a partir da valiosa sugestão de Centro de Referência da Cultura Negra – CERNE, com a entrega de Título Post-Mortem de Cidadania Benemérita de Juiz de Fora aos familiares desta líder, cujo destaque se deu através do incansável trabalho vinculado aos movimentos sociais. A solenidade foi realizada no plenário Francisco Afonso Pinheiro, na Câmara Municipal, no dia 11 de janeiro de 2008 e as peças emblemáticas foram repassadas para o irmão Antônio Izidorio Neto – “Toninho” e suas filhas. A homenagem foi transformada em Lei Municipal n° 11478 / 2007.
“Cirene Candanda pode ser citada não só pelas suas qualidades, que a enalteceram em vida, mas principalmente pela trajetória firme e pela altivez que demonstrava ao emitir suas idéias e pensamentos. Sem medo, com sua bengala em riste, microfone em punho, ela soltava a voz e falava o que queria”. Com estas palavras, Flávio Cheker iniciou seu pronunciamento, lembrando que a homenageada morreu em 20 de novembro do ano passado, justamente no dia dedicado à Valorização da Raça Negra.
Natural de Torreões, Cirene Candanda não se calou durante o período de opressão. Ela foi militante em defesa da saúde com qualidade para todos e no respeito às diferenças. Combateu o racismo, a discriminação de gênero, raça e classe. Apostou nos adolescentes, contribuindo decisivamente para a criação do CERNE e do Curso Pré-Vestibular para Negros e Carentes, que recebeu o seu nome.
Cirene sempre militou nos movimentos populares. Integrou a Juventude Operária Católica, a Pastoral do Negro Kaiode, o Fórum da Mulher Negra, o Conselho Municipal de Valorização da População Negra e a Secretaria de Combate ao Racismo do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores – PT. Ela recebeu da Câmara a Medalha Nelson Silva, Edição 2001, instituída pela Resolução Nº 1120, de 29 de outubro de 1999, (premiação de mérito cívico às pessoas físicas e jurídicas que se notabilizam na produção e difusão de manifestações culturais e sociais da raça negra nos âmbitos municipal, estadual e federal).
Flávio ressaltou que esta líder comunitária representou e deu exemplo de luta, dedicação e abnegação pela causa negra, lembrando que as trincheiras que ela enfrentou sempre apresentaram grandes dificuldades, mas ela não esmoreceu! “Cirene era uma figura combativa, alegre, que cantava, dançava, mantinha as tradições e o culto das coisas boas da vida”, reafirmou Cheker.
Durante o evento, amigos prestaram outras homenagens. Dagna Costa declamou um poema dedicado à “linda negra que voltando com seu festim, trazia na cabeça erguida um turbante carmesin”. O Grupo Afoxé Ilê Okan Odara Oyá apresentou uma dança afro, dando um toque de arte e beleza à comemoração. O amigo e artista plástico Maury Paulino, retratou a figura “inconfundível” de Cirene Candanda em um quadro exposto na entrada do Plenário Francisco Afonso Pinheiro.
O Secretário Adjunto da Secretaria Especial da Política de Igualdade Racial do Governo Federal, Martvs das Chagas, fez um pronunciamento que mostrou a complexidade de Cirene Candanda. “Ela era notada por onde passava, suas feições, sua fala, sua história e militância. Era impossível não reparar nela. E quando ela queria, sabia irritar, pois tinha a coragem de colocar a formalidade de lado e dizer o que estava pensando. Ela se impunha como uma rainha, mas era capaz de rir, de chorar, de brigar, mas nunca sem retidão de caráter”, lembrou Martvs.
O Presidente da Câmara, Vicente de Paula Oliveira (Vicentão) deu um toque de humor, ao rememorar sua adolescência, como conterrâneo da homenageada e anunciou que dará, ao Posto Médico do Bairro Vale Verde, o nome de Cirene Candanda. Estiveram presentes na solenidade, além dos familiares, o vereador Pardal, José Geraldo Azaria (Zaka) – do Cerne, Jorge Ramos (Conselho Municipal de Saúde), Biel Rocha (integrante do Unibairro, ex-deputado e ex-vereador), Luíza Francisca (Grupo Kaiode), Kosme Nogueira (Sinserpu), Dagna Costa (Grupo Tenda de Mulheres Negras), Professora Margarida Salomão (ex-reitora da UFJF), Rogério Freitas (Presidente do PT – JF), entre muitos outros convidados.
* O retrato de Cirene Candanda foi gentilmente cedido, ao nosso site, pelo artista plástico Maury Paulino.