Vereador em seu quarto mandato e professor de literatura há 30 anos, Flávio Cheker (PT) também é o atual presidente da Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de Juiz de Fora. O site eMiolo.com conversou com Cheker para saber suas opiniões a respeito da vida política e cultural de Juiz de Fora. Confira!
Por atuar também como professor de literatura, em que os conhecimentos literários auxiliam no exercício da política?
A literatura sempre abre muito a visão de mundo da pessoa. Quanto maior o contato com os livros, e quanto maior for o ato de leitura de um cidadão, mais ele estará capacitado a enxergar a realidade sobre ângulos variados. No caso de um político, quanto mais a sua cabeça estiver oxigenada fora do mundo estritamente político, melhor, porque ele tem uma condição de apreender a realidade e tentar agir para transformá-la sem os vícios e os aspectos negativos que a vida política fatalmente trás.
Você acredita que fato de não ter sido eleito para deputado estadual tem ligação com os escândalos de corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores?
As atitudes tomadas pelo PT Nacional, mas sobretudo pelo PT Paulista, prejudicaram muito as campanhas dos candidatos petistas. Além disso, o PT, como partido, cometeu um erro capital que foi o de tornar-se uma espécie de apêndice do governo federal, abrindo mão de toda a sua criatividade.
Qual o melhor caminho para se manter a ética dentro da política?
Penso que é fundamental que a fidelidade partidária torne-se cláusula pétrea da lei orgânica dos partidos, que os parlamentares tenham atitudes no sentido de romper com a tradição fisiológica da política brasileira, o famoso “é dando que se recebe”. Acredito também que é fundamental que a população fiscalize a ação dos seus representantes, acompanhe seus mandatos para que ela faça a diferença em o joio e o trigo.
Qual foi seu maior desafio ao assumir a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de Juiz de Fora?
O desafio permanente é o de fazer com que haja uma explicitação da luta pelos direitos humanos não como uma luta menor que visa proteger aqueles indivíduos que porventura tenham contas a ajustar com a sociedade, mas ao contrario, como uma luta que busca preservar a integridade daquilo que nos faz comuns que é o fato de sermos todos humanos. Em outras palavras, é preciso difundir, permanentemente essa cultura de direitos humanos para que o cidadão reconheça, no seu semelhante, aquilo que ele mesmo busca para si.
Comparada com outras regiões, como você analisa a questão dos direitos humanos em Juiz de Fora?
Juiz de Fora é uma cidade que tem problemas severos na questão do desrespeito aos direitos humanos, mas, felizmente, não é uma cidade em que isso atinja a níveis de outras cidades do mesmo porte. É fundamental hoje que a municipalidade, sobretudo através do poder executivo, assuma de maneira mais ostensiva, mais explícita, uma relação direta com a defesa dos direitos humanos, principalmente no seu sentido amplo, direitos humanos encarados também como direitos sociais.
O que você acha da atual política de conservação do patrimônio cultural de Juiz de Fora?
Nós demos passos significativos, mas infelizmente, há ainda muito a ser feito nesse campo. É preciso, sobretudo, maior autonomia do poder executivo em relação ao lobby que é exercido com muita freqüência pelos setores interessados na demolição do patrimônio. É fundamental que a legislação seja mais divulgada entre os proprietários para que eles percebam as vantagens de ter seus imóveis tombados.
Você convocou uma audiência pública para tratar da preservação do acervo do historiador e jornalista Dormevilly Nóbrega. Como estão as ações?
Nós tivemos uma grande notícia da UFJF que, em audiência pública promovida recentemente aqui na câmara manifestou interesse em recuperar aquele acervo, em organizá-lo, em inventaria-lo e em mantê-lo sobre a sua guarda. Agora estamos aguardando uma posição dos herdeiros para que isso possa efetivamente ser feito e a cidade possa ganhar com a preservação e o uso desse grande acervo.
Quais são os projetos para 2007?
Continuar atuando na proposição de matérias de interesse da população, sobretudo a população mais carente; insistir numa maior transparência das ações do poder executivo, além das atividades que temos de passar o pente fino nas atitudes do poder executivo, o que é uma obrigação constitucional do vereador; buscar uma maior aproximação com os setores sociais que necessitam de legislação específica para tentar traduzir em leis sua demanda social.