Após um período de privação da liberdade, os egressos do sistema prisional muitas vezes têm de lidar com mais um desafio quando terminam de cumprir a pena: voltar ao mercado de trabalho. Pensando no papel do emprego na ressocialização destas pessoas, o programa “Qualificação Profissional e Cidadania”, do Departamento de Transferência de Renda (DTR) da Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS), implantado no final de setembro, já começou a dar os primeiros resultados. Na segunda-feira, 20, na aula inaugural do curso de eletricista, oferecido através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e ministrado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste), dois novos estudantes eram oriundos do Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (PrEsp) e iniciavam ali uma nova caminhada rumo à reinserção na sociedade.
Willian Ferreira, 24, ficou sabendo da oportunidade de qualificação profissional através de uma das ações realizadas no Centro de Prevenção à Criminalidade. Na ocasião, a equipe do DTR apresentou aos participantes do PrEsp o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e os benefícios atrelados a ele. William conta que o curso oferecido pelo Pronatec foi o que mais o interessou. “Eu já participava do grupo de reuniões, e um dia conheci a equipe do DTR, que nos falou da possibilidade do curso de capacitação. Quando disseram que ainda havia vagas, me interessei na mesma hora”, diz.
No dia da ação realizada pelo DTR, Elias Teixeira, 27, estava ausente, mas isso não foi um empecilho para que ele pudesse buscar um recomeço em sua vida. Elias diz que a possibilidade de qualificação profissional era o assunto mais comentado, o que o motivou a “correr atrás”, como ele próprio diz. “Fiquei sabendo da reunião com as pessoas que participaram, então procurei a Secretaria de Desenvolvimento Social. Eles me explicaram tudo sobre o programa e recadastraram minha família no CadÚnico, que estava desatualizado. A partir daí, vi no Pronatec a possibilidade de mudar de vida”, conta.
Willian acredita que o interesse acentuado pela capacitação vem de uma necessidade que os egressos do sistema prisional têm, mas que, eventualmente, lhes é negada. “Muitos têm a vontade de melhorar, de mudar o rumo da vida, mas o que falta é oportunidade. Por isso, acredito que esse projeto (da SDS) vai beneficiar muita gente”, afirma.
Ressocialização
O estigma de quem já passou pelo sistema prisional é considerado um dos maiores entraves ao processo de ressocialização. O preconceito pode se tornar uma pena perpétua, o que muitas vezes inviabiliza a reintegração dessas pessoas. É o que atesta a assistente social do DTR, Ana Paula Tostes. “O projeto nasce de uma compreensão que temos das dificuldades da inclusão destas pessoas no mercado de trabalho. Por esse motivo, encampamos ações de mobilização e inserção na qualificação profissional, com vistas ao acesso ao emprego e perspectiva de autonomia”, explica.
O projeto, inédito na cidade, já apresenta resultados apenas poucas semanas após sua implementação, no dia 29 de setembro, e vem mostrando êxitos na articulação com os governos federal, através do Pronatec, e Estadual, pelo PrEsp. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Social, Flávio Cheker, os frutos da iniciativa são motivos de comemoração. “Este é um momento muito especial para nós. Estamos conseguindo, na prática, possibilitar o retorno à vida social, através da qualificação profissional, de pessoas que devem ter o direito de reconstruir suas vidas. Com esse projeto, demos um passo decisivo em direção a uma Juiz de Fora mais fraterna e acolhedora”, destaca.
O acesso a este direito, citado por Cheker, é manifesto nas aspirações dos dois futuros eletricistas. Willian encara com animação a possibilidade de ter um emprego. “É muito gratificante ter a chance de alcançar um dos meus maiores objetivos, que é ter uma profissão. Ao conseguir meu certificado de conclusão de curso, creio que não me faltará mais nada para buscar essa meta”. O pensamento de Elias segue a mesma linha. “Quero caminhar de outra forma na minha vida, e por isso vou me esforçar ao máximo para sair sabendo fazer o que o curso se propõe a nos ensinar”, afirma, confiante.