O ciclismo em Juiz de Fora deu nova prova de força e organização. Em Audiência Pública nesta quarta (11), ciclistas e apoiadores do movimento manifestaram a importância e a urgência de se pensar a cidade incluindo a mobilidade por meio de bicicletas como uma alternativa viável de transporte. O evento foi proposto pelo vereador Flávio Cheker, e buscou discutir Projeto de Lei do parlamentar que cria o Plano Diretor Cicloviário Integrado.
Durante a abertura da Audiência, Cheker destacou a urgência deste tipo de proposta. Diante do trânsito caótico e da falta de investimento em transportes públicos, a mobilidade por bicicleta torna-se a melhor alternativa, em particular por ser simultaneamente sustentável e saudável. Lembrou que milhões de pessoas, em todo o Brasil, já se utilizam da bicicleta em seus deslocamentos diários. O parlamentar referiu-se ainda ao Programa Brasileiro de Mobilidade Urbana, do Governo Dilma, que tem incentivado cidades e estados a construir ciclovias, inclusive com disponibilização de recursos.
“Hoje o país pensa a bicicleta como uma possibilidade real de melhoria do tráfego das cidades. Há diferentes iniciativas neste sentido, seja através da construção de ciclovias, seja integrando-as a outros modais. O mais importante é reconhecê-la como uma alternativa efetiva, o que até agora não tem sido feito pela administração municipal”, afirma o parlamentar.
Diversos ciclistas tiveram a oportunidade de se manifestar durante o evento. Para Tiago Godoy, é preciso que a cidade invista mais em planejamento, de modo que os ciclistas não tenham que disputar espaço com os carros. Já Mariana Rebelatto destacou que a experiência do ciclismo proporciona uma outra visão sobre a cidade. Segundo ela, há maior proximidade, o que gera maior intimidade. “A gente percebe que a cidade precisa ser realmente de todos, o que hoje em dia não acontece”.
O evento também contou com a participação de especialistas no tema. De acordo com o professor José Alberto Castañon, um estudo recente demonstrou que a ausência de infraestrutura, estacionamento e segurança é o grande empecilho para que mais pessoas façam uso da bicicleta como meio de transporte. Já o gestor ambiental Ugo Nogueira ressalta que há grande demanda reprimida de espaços específicos para ciclistas na cidade. Em toda Juiz de Fora, há apenas 2,2 km de ciclovias. Diversos outros oradores e oradoras se manifestaram, com importantes contribuições. Muitos falaram do uso da bicicleta como meio de transporte para o trabalho, mostrando que, mesmo com a falta de investimentos públicos, a bicicleta é também essencial para permitir uma melhoria no orçamento familiar.
Outro segmento que fez bradar bem alto sua voz foram os cadeirantes, que estiveram presentes em grande número. Nunca o Palácio Barbosa Lima, sede do Legislativo, recebera tantos de uma só vez. Os relatos mostraram que os usuários de cadeiras de rodas sofrem as muitas limitações e inseguranças vivenciadas pelos ciclistas.
Ao encerrar a Audiência, Cheker cobrou uma nova postura do Executivo Municipal sobre o tema. “É preciso virar a página na forma como se pensa o transporte público em Juiz de Fora. Não se pode mais pensar no ciclista como um “estorvo”, nem no modal bicicleta como um ‘problema’, como faz hoje a Prefeitura”. O parlamentar lembrou ainda que nas reformas das avenidas Rio Branco e Costa e Silva, em nenhum momento se pensou na inclusão das ciclovias, ou mesmo na integração com outros modais. “Este é um movimento irreversível. O modal bicicleta entrou na pauta da cidade para não mais sair. É daqui para frente”, disse.